A suposta presença da substância arsênio, detectada por exames laboratoriais no sangue de uma das vítimas que precisou ser hospitalizada após comer um bolo no estado do Rio Grande do Sul (RS), despertou a atenção no cenário nacional. Até esse caso vir à tona, parte da população brasileira desconhecia essa substância, assim como os riscos que ela pode oferecer à saúde humana.
Afinal, o que é arsênio? Onde e como pode ser encontrado? Ele está presente no dia a dia das pessoas? Pensando em esclarecer esses e outros questionamentos, o Bnews entrevistou dois profissionais da área de toxicologia - ciência que estuda os efeitos nocivos produzidos pelas substâncias químicas - que apresentaram explicações técnicas sobre o assunto.
O diretor do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Bahia ( CIATox-BA), unidade pertencente à Secretaria de Saúde do Estado (Sesab), Juscelino Neri, iniciou a entrevista com o conceito do componente. “O arsênio é um elemento químico que entra na composição de diferentes substâncias, como o trióxido de arsênio, que é o mais utilizado em envenenamentos e o mais tóxico. Ele também está presente na natureza, no solo, na água, em algumas regiões, em alguns frutos do mar. O trióxido de arsênio, que é utilizado como envenenamento, é uma substância incolor, não tem sabor e, quando inserido no alimento, acaba não alterando o seu sabor. Então, é muito difícil ser detectado porque não tem cheiro e nem sabor, sendo imperceptível ao paladar", pontuou Neri.
Sobre os principais sintomas que se manifestam após o consumo da substância, Juscelino destacou alguns.“O quadro de envenenamento causado por ele é muito inespecífico. Lembra muito a intoxicação alimentar comum. Geralmente, aparecem distúrbios gastrointestinais, vômito, diarreia, dor abdominal intensa, podendo, também, ocorrer o choque e levar à morte. Isso vai depender, obviamente, de vários fatores como a quantida ingerida, até o estado e as condições de saúde do indivíduo. Tudo isso interfere. Tem indivíduos que são mais ou menos resistentes a algumas substâncias”, completou.
Alexandre Barcia de Godoi, aluno de doutorado em Toxicologia e Farmacologia pela UNICAMP, alertou sobre em quais locais essa substância pode ser encontrada. “Particularmente, em águas subterrâneas de regiões com solos ricos em arsênio, podendo contaminar fontes de abastecimento. Traços de arsênio também são localizados em alimentos como peixes, mariscos, arroz e frango, devido à sua presença natural no ambiente. No solo e no ar, como em atividades industriais, como mineração e queima de combustíveis fósseis, além de sua alta presença em resíduos de materiais vulcânicos, podem liberar arsênio no solo e na atmosfera”, disse.
"No entanto, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), águas contaminadas com arsênio, destinadas ao consumo, preparo de alimentos e na irrigação de plantações representam o maior risco a exposições potencialmente danosas à saúde. Nesse sentido, tais exposições, quando prolongadas, podem levar a lesões de pele e diferentes tipos de câncer", disse Alexandre.
Confira outras informações detalhadas passadas pelo diretor da CIATox-BA, Jucelino Nery, farmacêutico bioquímico especialista em toxicologia clínica e forense em uma entrevista publicada no Bnews.
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