Luciana Nietto precisou conectar o aparelho respirador da filha no acendedor de cigarro do carro, por meio de três extensões, para garantir que Heloísa, de 18 anos, continuasse respirando. A jovem de 18 anos, que tem uma doença rara - Atrofia Muscular Espinhal (AME) - não pode ficar dez segundos longe do aparelho. Depois, precisou fazer um "gato" na casa do vizinho, que em solidariedade à situação da família, emprestou sua energia elétrica para Luciana.
As "gambiarras" foram necessárias porque a casa onde moram mãe e filha ficou cerca de 60 horas sem o serviço de energia elétrica, desde antes das 20 horas de sexta-feira, 11, após a tempestade que gerou um apagão na Grande São Paulo.
A Enel só foi religar a energia na residência da família, em São Bernardo do Campo, no final da manhã desta segunda-feira, 14, mesmo o imóvel tendo Cadastro de Cliente Sobrevida (Vital), onde há prioridade no atendimento de solicitações de emergência e no atendimento da religação.
Em nota, a Enel diz que tem "trabalhado incessantemente" para reparar a rede elétrica. "A companhia reforçou as equipes próprias em campo, recebeu apoio de técnicos de outras distribuidoras e deslocou profissionais de outros Estados", disse a companhia.
Luciana conta que passou noites em claro pela preocupação de que algum dos aparelhos parasse de funcionar devido à falta de energia. Entre a noite de sexta-feira e a manhã de sábado, 12, o respirador de Heloisa ficou ligado graças aos dois nobreaks (aparelho que conta com bateria interna e evita desligamento repentino) que Luciana mantém em casa. Como ele aguenta apenas algumas horas fora da tomada, a mãe precisou ficar se deslocando para casa de vizinhos que tinham energia para poder carregá-los, e chegou até mesmo a ter que emprestar o aparelho de outra pessoa.
Nesse meio tempo, ligava o respirador no carro como alternativa. Para isso, precisava deixar o veículo ligado e conectar três extensões, uma seguida da outra, da garagem da casa até o quarto da filha, onde mantém uma "mini UTI", com diversos aparelhos que precisam de energia elétrica para funcionar.
"Como eu tenho um inversor, que conecta no acendedor do carro e vira uma tomada 110V, conectei e levei até o quarto da Helô. Primeiro eu testei no celular, vi que carregou, não explodiu nem nada, e aí pus no respirador", conta a mãe.
Como o sinal de telefonia também estava instável após a tempestade, Luciana ficou com receio de ter alguma intercorrência e não conseguir chamar uma ambulância ou pedir ajuda.
Entre várias ligações para a Enel - muitas das quais não foram atendidas, mesmo quase uma hora esperando - a mãe recebeu da empresa a sugestão de levar a filha para o hospital, mas Luciana evitou ao máximo essa opção. "Eu fiz de tudo para ela não ir para o hospital, porque a última internação dela foi um show de horror. O plano de saúde tirou o home care dela. E o que eram três dias de internação para extração de um dente, viraram 45 dias. Só consegui tirar ela de lá por causa de ação judicial", relata.
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