terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A COPA DA OSTENTAÇÃO

Embora a Copa seja o segundo evento esportivo mais assistido no mundo e que a competição tenha efeitos significativos para o desenvolvimento do país-sede, é de conhecimento de todos que um país menos desenvolvido pode sofrer consequências desastrosas, por conta principalmente das despesas com as instalações desportivas.
Convido-os a uma conta simbólica, de apenas um dos itens enquadrados nas normas técnicas brasileiras e recomendadas pela FIFA: os assentos. Cada um, de modelo simples, para o público em geral, custa em média 400 reais. Como estamos falando de 12 estádios com uma média de 60 mil lugares em cada um deles, estamos falando num montante de quase 300 milhões. Fora camarotes e áreas VIPS, onde o padrão de excelência faz com que alguns cheguem a custar mais de mil reais cada. Enquanto isso, uma maca em lona dobrável, de modelo simples, custa em média 250 reais e falta em quase todos os postos de saúde do país.
Achando pouco assinar um contrato engessado onde a FIFA tem poderes sobre quase todos os produtos lucrativos durante o evento, o Brasil ainda renunciou aos principais impostos durante sua candidatura, a fim de sediar a competição. Veículos de comunicação especializados no assunto afirmam que o país deixará de arrecadar mais de um bilhão, citando estudos feitos pelo Tribunal de Contas da União, como se esse dinheiro não fosse fazer falta aos nossos cofres públicos. Enquanto isso, milhares de pessoas vítimas das chuvas ainda lutam para reerguer seus casebres, a guerra entre índios e fazendeiros por um pedaço de chão é primitiva, e a merenda escolar de muitas das escolas públicas do nosso país é de dar nojo.
Além da isenção fiscal, que massacra o restinho de esperança do brasileiro de que esse circo todo possa de fato trazer alegria, nos resta torcer não somente pelo time, mas para que não aconteçam incidentes de segurança durante os jogos. O contrato faz o Brasil assumir a responsabilidade civil em caso de danos e incidentes de segurança, arcando também com os custos de processos judiciais contra a organização da Copa. Assim, se um torcedor sentir-se lesado e optar por processar a FIFA é o nosso país quem paga a conta. Feriram a Constituição e o bolso do brasileiro em nome de uma ostentação política mesquinha.


Manuela Berbert é publicitária e colunista do jornal Diário Bahia.

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