A sensação térmica ultrapassa os 40°C durante o dia e o ventilador parece piorar o clima abafado. Essa é a rotina de moradores de cidades baianas que enfrentam a seca extrema. Cinco municípios do estado estão sem registrar chuvas há mais de 108 dias. Barra, na região oeste, passa pela situação mais crítica: já são 133 dias sem um único volume de chuva registrado pelas estações pluviométricas.
A cidade de 51 mil habitantes, localizada na região do Vale do São Francisco, ocupa o primeiro lugar na lista dos municípios que estão há mais tempo em estiagem. As informações foram disponibilizadas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) a pedido da reportagem. Fazem parte do ranking: Irecê (131 dias), Ibotirama (129), Luís Eduardo Magalhães (129) e Barreiras (108).
Em Irecê, no centro-norte baiano, o céu até amanhece nublado no período de seca, mas o sol dá as caras durante o dia e as nuvens carregadas se afastam de vez. A moradora Margareth Gama, 55, conta que até sentiu uns pingos no final de agosto, mas a chuva sequer molhou as roupas do varal.
Nessa época do ano, o pessoal já começa a plantar, mas agora está todo mundo parado, esperando a chuva chegar. Teve uma garoa, mas serviu só para amenizar o calor”, diz. A chuva fraca não chegou a ser registrada pela estação pluviométrica da cidade, segundo o Inmet. Como o instituto não contabiliza as precipitações de todos os municípios, é possível que o número de cidades baianas em que não chove há mais de quatro meses seja ainda maior.
O meteorologista Heráclio Alves, vinculado ao Inmet, analisa que o período prolongado sem chuva era esperado para esse período do ano no interior da Bahia. “O período mais chuvoso finaliza no mês de abril, nessa região, e, a partir disso, praticamente não chove. A situação está dentro do normal para o que é esperado”, explica.
Segundo o especialista, a previsão é que as chuvas voltem a ser registradas a partir de outubro. A atuação de anticiclones que mantêm a massa de ar seca e quente inibem as precipitações no interior da Bahia.
A estiagem coincide com o momento em que o Brasil enfrenta a pior seca desde o início dos registros da série histórica, em 1950, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). A estiagem atinge 58% do território nacional e é intensificada por incêndios criminosos. Na Bahia, os focos de queimadas também cresceram. O estado registrou aumento de 140% nos últimos cinco anos, sendo a região oeste a mais atingida.
“É durante o inverno que ocorre o aumento das queimadas, porque o ambiente sem chuva contribui para o aumento da biomassa, que são as folhas secas. Com isso, os focos de incendio evoluem mais rápido para queimadas, chegam a atmosfera, e podem atingir outras áreas”, explica a meteorologista da Climatempo Andrea Ramos.
O clima seco contribui ainda para a baixa umidade do ar e, assim, causa problemas de saúde. Das cinco cidades onde não chove há mais de 100 dias, Barreiras e Luís Eduardo Magalhães, no oeste, estão sob alerta de grande perigo de baixa umidade decretado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Isso significa que a umidade está abaixo de 12%. O ideal é que o índice seja de 60%, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
As cidades Barra, Irecê e Ibotirama estão sob alerta de perigo, quando a umidade varia entre 12% e 20%. A baixa umidade aumenta risco de incêndios florestais e à saúde, como doenças pulmonares, desidratação, dor de cabeça e ressecamento da pele. Por isso, é importante beber bastante água e manter uma alimentação equilibrada.
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